domingo, 1 de abril de 2007

Irenes e Pedros

Irenes e Pedros

Adriano Gosuen

Eu gosto muito do poeta Manoel Bandeira. Acho que, por isso, naquela manhã fresquinha de sábado, me lembrei dele.

Era o dia 27 de janeiro e estávamos no Jardim Aeroporto para começar uma nova etapa na luta pelos direitos das crianças à educação: dali sairia a primeira caminhada da “Ciranda em Defesa da Educação Infantil”, um movimento que pretende garantir vaga em creche e pré-escola, com atendimento público, gratuito e de qualidade para qualquer criança da cidade, conforme manda a lei.

Era essa a missão do dia: mostrar para o povo seus direitos e como ele pode cobrar que seu direito seja realizado na área da educação. Quem estava lá? Ah, essa é a parte mais gostosa da história: 24 instituições, entre elas a Promotoria da Infância e Juventude, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Conselho Regional de Psicologia, vários estudantes universitários, mas especialmente, Irene e São Pedro. Quem? Os personagens de uns versinhos do Manoel Bandeira. O poema diz assim:

Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor
Imagino Irene entrando no céu:
— Licença, meu branco!
E São Pedro bonachão:
— Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.

Sim, para mim, Irene e São Pedro, por um instante, estavam lá. Foi quando vi a Zezé e o Padre Chico se cumprimentarem. De um lado, Zezé, no seu porte elegante de senhora negra que se tornou educadora de muita competência da Creche Carochinha da USP e, de outro lado, o Padre Chico, que com seu tamanho nos lembra um padre bonachão, somada a agilidade e atuação intensa que o Padre Chico tem. É como se a Zezé e o Padre Chico, por instantes, estivessem encenando os personagens do poema.

E foi aí que comecei a passar os olhos em torno e comecei a ver mais Irenes e mais Pedros em cada uma das pessoas que estava ali, para ajudar aquelas crianças a conquistarem seus direitos. Era o bom humor de Irene e a generosidade de São Pedro estampadas nos estudantes, nas donas-de-casa, nos paroquianos das comunidades de Santa Terezinha, São Mateus, São Geraldo, Nossa Senhora das Dores, Senhor Bom Jesus da Lapa, Maria Mãe do Povo e São Lázaro! Era a força do senhor Mário Saponi - cuja idade já o isentava de estar lutando, mas que não só foi conosco caminhar, como também segurou a bandeira por quase todo o trajeto.

Também eram Irenes e Pedros as queridas pessoas da Pastoral da Criança, que fazem seu trabalho de formiguinha, levando de casa em casa, acolhimento e cuidado às famílias que necessitam, independente de que religião as famílias tenham.

Eu não acredito em muita coisa, mas ali, caminhando com essa gente, que acredita que o bem comum é possível, que acredita que podemos todos ter felicidade; foi ali, nessa luta pela garantia do direito à educação das crianças, que tive a certeza de que a Igreja de Pedro está viva e bem representada pelos católicos que entendem que a justiça social precisa acontecer na Terra; que a justiça social nos foi presenteada por Deus para que todos tenham vida em abundância e que é nosso dever fazer acontecer a vontade Dele, de felicidade e amor para todos.

Essas Irenes e Pedros me alimentaram de fé e esperança. E por isso, agradeço a todos eles, a imensa felicidade que me deram de comungar a fé que eles têm em um mundo melhor.

Jornal da Paróquia Santa Terezinha.

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